Sua última encarnação na Terra foi,
conforme ele mesmo revelou através de Koatay 108, quando nasceu
Sebastião Quirino de Vasconcelos, filho de Joaquim Vasconcelos e de
Persínia Quirino de Vasconcelos, fazendeiros em Mato Grosso, no ano de
1897.
Alegre e trabalhador, em 1915, com 18
anos, foi adquirir cabeças do bom gado que sabia ser criado por um
paraguaio chamado Germano Perez, em Ponta Porã.
Este criador e sua esposa, Guiomar,
tinham três filhos, entre os quais uma linda jovem, com 14 anos, de
longos cabelos louros, olhos negros, rasgados, chamada Justininha Perez.
Depois de vinte dias de viagem, a
comitiva de Tiãozinho, com mais sete componentes, entre os quais
Zeferino, crioulo de grande confiança dos patrões, chegou à fazenda dos
Perez, sendo recebida com uma grande festa que entrou pela noite.
E aconteceu o encontro de Tiãozinho e
Justininha, marcado pela magia da união das almas gêmeas. Um aguardava
pelo outro, e o amor grandioso dominou imediatamente o casal. Tiãozinho,
belo rapaz, havia tido muitas namoradas mas teve um sentimento
inteiramente novo ao encontrar aquela linda e tímida jovem que, em seu
olhar, transmitia a alegria transcendental daquele momento.
Justininha se transformou tanto, até
cantando para os convidados, que seus pais perceberam o que estava
acontecendo. Ficaram alegres, pois viram que Tiãozinho era responsável e
parecia, também, corresponder ao sentimento da filha.
Realizada a compra de 500 cabeças de
gado, a comitiva preparou-se para retornar. Justininha, com lágrimas nos
olhos, despediu-se de Tiãozinho, que convidou os Perez para visitarem
sua fazenda.
Na viagem de volta, com o coração
apertado, Tiãozinho quedava-se saudoso, pensando em Justininha. Zeferino
então contou que estava apaixonado por Tianinha, empregada dos Perez, e
que pretendia casar com ela.
Chegaram em casa, e Tiãozinho relatou
aos pais tudo o que acontecera, inclusive a paixão que Justininha
despertara nele, e se apressou a desmanchar o namoro com Marta.
Só que Martinha já estava namorando outro, e Tiãozinho sentiu-se aliviado por não ter que magoá-la.
Passou-se um ano, com Tiãozinho e
Zeferino ansiosos por seus amores. Sugeriu Tiãozinho a seu pai que
enviasse um portador especial com o convite para que os Perez fossem
passar o Natal com eles, na fazenda. O convite foi aceito, e, um belo
dia, chegaram os Perez à casa de Tiãozinho, acompanhados por Tiana.
A alegria foi enorme, e alguns dias
depois se realizava o casamento de Zeferino e Tiana. Um mês depois, foi o
enlace dos dois apaixonados - Tiãozinho e Justininha.
Iniciou-se, então, o trabalho de Tiãozinho com aquela sua alma gêmea, libertando-a do ciúme doentio que sentia dele.
São dele as palavras: “Sim, meus
irmão, quando amamos verdadeiramente, quando estamos com nossa alma
gêmea, estamos com a mais doce das mulheres! Em geral, ela é, aos nossos
olhos, a mais divina e bela, a original! Por este amor, perdoamos tudo,
em recompensa do que nos traz...”
Essa união foi feliz e Tiãozinho superava as crises com amor e alegria.
Cinco meses após o enlace, resolveram ir
a Parnaíba, visitar uns tios de Tiãozinho. Ao atravessarem um rio, numa
chalana, esta afundou, e os dois desencarnaram.
Sofreram os primeiros momentos, e
Tiãozinho descreve como seu Mentor apareceu e trabalhou até que tivessem
consciência da situação de espíritos desencarnados.
Tiãozinho termina seu relato: “Hoje,
após várias missões, inclusive em Nosso Lar, estamos integrados à
missão do grande Seta Branca. Somos, também, Jaguares, junto a vocês,
Mestre Sol e Mestre Lua, Doutrinador e Apará!”
Tiãozinho passou a trabalhar em nossa
Corrente após verificar a autenticidade de Koatay 108, com quem teve
inúmeros contatos, inicialmente como o Capelino Stuart e, depois, pela
incorporação em Tia Neiva, principalmente em problemas de infância e
juventude, transmitindo mensagens de amor e esperança aos médiuns do
Amanhecer, ajudando-os em seus problemas materiais, especialmente com
veículos e com máquinas de modo geral.
Justininha, evoluída pelo amor de sua
alma gêmea, iniciou sua jornada junto às crianças portadoras de
espíritos mais rebeldes, ensinando-lhes a Lei de Causa e Efeito, e, mais
recentemente, vem trabalhando dentro das Leis do Amanhecer, onde
complementa a missão de Tiãozinho, como ele mesmo afirmou no final de
sua mensagem.(ac.Tumarã)
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Existia uma bela fazenda, situada no
município de Ponta Porã, estado de Mato Grosso, tendo como proprietário o
Sr. Germano Perez, que ali vivia com sua esposa, Dª Guiomar Peres, e
seus três filhos. Sua filha mais velha, linda mocinha paraguaia, nos
seus 14 anos de idade, cabelos compridos e louros, olhos negros
“rasgados”, chamava-se Justininha Perez. Ali vivia, em completa
harmonia, esta honesta família. O Sr. Germano tinha muitos negócios com
animais de criação, de inigualável qualidade. Apesar de sua
nacionalidade paraguaia, já se sentia um brasileiro naturalizado.
Em 1915, eu, Sebastião Quirino
de Vasconcelos, filho de fazendeiros de Mato Grosso – Joaquim de
Vasconcelos e Dª Persínia Quirino de Vasconcelos, minha mãe – estava
administrando, com mão firme, nossos bens, vivendo em nossa fazenda,
cercado pelo amor de meus pais. Certo dia, meu pai me chamou e me
entregou uma quantia em dinheiro, dizendo-me: Meu filho, já tens um
pouco de prática, e melhor seria, para nós, se não precisasses te
ausentar daqui. Porém, preciso que vás até Ponta Porã comprar uma
partida de bom gado para ser solto, aqui, nestas invernadas. Esta é a
melhor maneira de empregar este teu dinheiro. Dizem que na Fazenda Perez
tem um gado sadio e por bom preço. Sim, meu filho, em breve estarás se
casando, e deves, desde já, cuidar do teu futuro. Vá, meu filho,
aproveita estas invernadas...
Três dias depois desta conversa,
estava de partida. Equipei uma tropa de bons animais, com cinco
vaqueiros armados com seus bacamartes de chumbo grosso, pois era aquela
região muito perigosa, infestada de onças traiçoeiras. Levei, também,
dois comandantes, peritos em guiar boiadas e um crioulinho, chamado
Zeferino, homem de minha inteira confiança, pois fomos criados juntos e
eu o considerava como um irmão. Só que eu era claro, e ele pretinho como
piche. Com os cargueiros repletos de apetrechos de cozinha e
mantimentos, com as bênçãos de meus pais, partimos para Ponta Porã.
Gastamos vinte dias em nossa jornada, e ficamos conhecendo uma porção de
lugarejos, onde parávamos para descansar e pernoitar, tendo eu, na
minha bela idade, namorado muitas moças.
Chegamos, por fim, à bem formada
Fazenda Perez, e fomos muito bem recebidos por um senhor gordo, de
aspecto bonachão, que se apresentou como o Sr. Germano. Convidou-nos a
entrar na grande casa, e ordenou que nos fosse servido o jantar. Depois
da lauta refeição, fomos nos sentar em uma ampla sala de visitas, para
podermos conversar sobre negócios. Nossa atenção foi despertada pela
entrada de uma mocinha, com belas tranças e um ar angelical, que vinha
trazer uma moringa com água. Justininha, minha filha, – disse o Sr.
Germano – venha até aqui conhecer estes cidadãos!
E voltando-se para nós,
continuou: Esta é a minha filha mais velha. Ela é muito caseira, muito
acanhada. Não gosta de festas, e só sai de casa para ir à casa da tia. É
muito sistemática esta menina...Ela foi cumprimentando, apertando as
mãos de um por um, até chegar diante de mim. Olhamo-nos como se já nos
conhecêssemos, e senti meu corpo se arrepiar. Ela se retirou apressada,
mas eu estava certo de que ela também sentira alguma coisa de diferente,
como se já tivéssemos nos encontrado em outras eras.
Após algum tempo, o Sr. Germano
chamou Dª Guiomar, que era uma pessoa muito alegre, e nos propuseram:
Vamos pegar os instrumentos e cantar até a hora de dormir? Todos
apoiamos a boa idéia e, pouco depois, chegaram alguns tocadores,
acompanhados por umas mocinhas. Começaram a tocar e a cantar e, enquanto
isso, os donos da casa nos serviam bebidas, doces e biscoitos. De
repente, ouviu-se uma exclamação de surpresa do velho fazendeiro, que se
deparara com Justininha sentada ali, assistindo à alegre reunião. Sua
filha raramente participava desses eventos.
O Sr. Germano pegou a mão de sua
filha e pediu silêncio. Justininha, agora, vai cantar em homenagem aos
nossos visitantes! – anunciou. Justininha corou, acanhada, e nossos
olhares se cruzaram. Ela, então, foi para junto de um violeiro, e
iniciou uma canção, que dizia:
Meu amor nunca chega-, eu me canso de esperar...- a garça branca me disse -, que ele não vai demorar!...
Papaizinho me consola -, garça branca vai buscar...- não é mentira do papai -, meu amor já vem pra cá!
Terminada a canção, todos
aplaudimos. Eu estava fascinado por aquela criaturinha, uma linda
criança! Sentia meu peito explodir de paixão pela bela Justininha.
Pediram que eu cantasse alguma coisa. Peguei meu violão, e comecei:
Morena, minha morena -, morena dos sonhos meus -, lábios da cor de verbena -, morena dos olhos meus...
Deus ao te fazer, criança -, fez-te entre as flores a mais bela -, dotando tua alma de esperança -, e teu olhar de estrelas!...
Quero dormir em teus braços -, aos gozos do coração -, minha alma assim não resiste -, a tanta ingratidão...
No mar de tuas madeixas -, quisera eu naufragar...- teus olhos negros me matam -, nessa singeleza sem par!
Terminei, e todos vieram me
cumprimentar. O Sr. Germano me disse: Jovem, parabéns. Tens uma bela
voz, e creio que deixou muitos corações apaixonados!...O fazendeiro
anunciou que estava na hora de dormir, e todos começaram a se retirar.
Fiquei por ali, e me sentei diante do fogo que estava se apagando,
mergulhado em meus pensamentos. É verdade, – pensava – que sempre
sonhei com alguém como Justininha. Sinto que ela veio matar esta saudade
que eu vivia alimentando em meu coração, sem mesmo saber de quem!
Mergulhado em meus sentimentos e em minha paixão, senti, de repente,
alguém que se aproximava, às minhas costas. Virei-me, e qual não foi
minha surpresa: ali estava Justininha, com sua saia bem comprida, seus
cabelos soltos e uma echarpe sobre os ombros. Senti forte emoção, e, se
não estivesse já sentado, por certo teria caído. Ela falou: Meu
papaizito pediu-me para vir ter consigo. Ele me disse que você é um
jovem educado e de boa família, e que parece estar triste em nossa casa!
Ela continuou, com seu ar
angelical, a falar: Sabe, senhor Sebastião, eu queria ouvir, novamente,
aquela sua canção! Gostei tanto! E escondendo o lindo rostinho na
echarpe, perguntou: Foi para mim que o senhor cantou, não foi? Se foi,
peço que a recite agora, sem música... Quero ouvi-la novamente!
Eu não conseguia desviar o olhar
daquela pequena fada. Falei, emocionado: Dona Justininha, quando a
senhora cantou, disse que seu amor estava longe, mas já vinha para si. É
verdade que ele existe e que seu pai bem o conhece? Responda-me, porque
eu a amo e quero que seja minha esposa!...
A surpresa paralisou-a por um
momento. Logo, sorriu e me respondeu: Não, não tenho nenhum amor... Sei
que sinto uma grande saudade, que eu mesma não sei de quem! Só sei que
ele existe e, um dia, chegará, e me levará para longe daqui. O senhor
vem de muito longe? Sim! – respondi, emocionado – E teria coragem de
casar-se comigo e, juntos, irmos embora daqui? Sim! Sim! – respondeu
ela – Sinto que você é esse meu grande amor!... Se o papaizito e a
mamãezita consentirem, vamos nos casar, e partiremos juntos... A tua
canção... Sei, agora, que cantou para mim, porém, naquele momento, não
gostei, porque parecia que olhava, com ternura, para Marinalva, aquela
sirigaita, que eu não suporto!... E você também aplaudiu muito quando a
Maura cantou! Sabe? Fiquei sem graça, com ciúme, quase com raiva, e por
isso não quis mais cantar. Ainda tinha uma linda canção para cantar para
você... – e concluiu com firmeza – E quando você quiser alguma coisa,
peça para mim, que eu mesma virei trazer. Pode dirigir-se a mim, ouviu?
Não precisa pedir nada às outras moças, porque terei o maior prazer em
atendê-lo.
Ao ouvi-la, pensei como era
singular aquela moça. Sentia minha paixão aumentar a cada momento.
Disse-lhe, então: Justininha, nada quero com estas moças! Estou
apaixonado por você e vou pedir a seus pais o consentimento para nos
casarmos. Amanhã já irei embora, mas vamos marcar um dia para eu voltar e
pedi-la em casamento...
O Sr. Germano chegou,
interrompendo nosso encontro, e disse: Meu rapaz, está de parabéns!
Minha filha até parecia um bichinho arredio e, no entanto, soubestes
torná-la tua amiga. Parabéns, meu jovem, parabéns!...Sorri como resposta
e fomos dormir.
No outro dia, bem cedo,
separamos o gado e fiz o pagamento. Juntei meus empregados e tudo ficou
pronto para a partida. Fui me despedir dos velhos, e o Sr. Germano me
contou que estava, há muitos anos, sem sair da fazenda, e que gostaria
de dar um passeio com a família. Aproveitei a oportunidade, e
ofereci-lhes minha casa, ficando acertado que, tão logo pudessem, iriam
passar uns dias conosco, em nossa fazenda. Justininha foi até o curral
para as nossas despedidas. Contei-lhe sobre o convite que havia feito e a
possibilidade de conhecerem meus pais. Ela saiu chorando, e senti algo
atravessar minha garganta, sufocando-me. Parti com meu povo, levando
quinhentas cabeças de gado. Retornávamos pelos mesmos lugares que
havíamos passado na ida, mas não tinha a mesma alegria. Meus
companheiros riam-se de mim, dizendo: A paraguaia parece que prendeu o
coração do patrãozinho! É verdade – confirmavam outros, sorrindo – e,
pelo que vemos, vai haver festança em breve! E ficavam sempre brincando
comigo, procurando afastar minha tristeza.
Na verdade, eu tinha ânsias de
gritar aquele amor que sufocava meu peito. Notei, então, que Zeferino
estava como eu. Querendo ajudá-lo, num momento em que ficamos só nos
dois um pouco afastados do pessoal, perguntei-lhe o que estava se
passando. Ele baixou a cabeça e falou, quase chorando: Sabe, Tiãozinho,
a verdade é que gostei muito daquela crioulinha, chamada Tianinha, que
foi criada por Dª Guiomar. Nós nos demos muito bem, e se eu não me casar
com ela, morro de paixão... E sei que ela também morrerá! Fiquei
boquiaberto, surpreso por vê-lo estar na mesma situação que eu.
Contei-lhe sobre minha paixão pela linda menina paraguaia. Animei-o,
dizendo que eu faria tudo para ver nós dois felizes, realizando nossos
sonhos de amor. Ele ficou tão alegre que pegou o bacamarte e disparou um
tiro para cima, cujo estampido assustou todos. Para os rapazes que se
acercaram de nós, curiosos, ele disse:
Vou me casar com Tianinha! Vou
me casar! Convido todos para o meu casório!...Prosseguimos nossa
trabalhosa viagem e, sofrendo e brincando, chegamos em casa. Meus pais
já estavam preocupados e saudosos, e fizeram grande festa pela nossa
chegada. Logo que arrumamos as coisas, fui procurar Martinha, minha
antiga namorada, e fiquei surpreso: durante os dois meses que durou
minha viagem, ela ficara noiva de outro!
Seguiram-se dias de calmaria, e
fui relatando aos meus pais os detalhes da viagem, inclusive sobre nossa
rápida estada na fazenda do Sr. Germano e a forma gentil com que ele
nos tratara. Contei, com pormenores, a paixão de Zeferino por Tiana, seu
desejo de logo se casarem, mas me resguardei, nada falando de
Justininha. Meus pais ficaram bem impressionados com o que contei, e
demonstraram o desejo de logo conhecerem aquela família que tão bem nos
acolhera. O tempo foi passando, e já se tinha escoado quase um ano de
nossa viagem. Não conseguia deixar de pensar na minha bela paraguaia, e
Zeferino já começava a perder a esperança de reencontrar Tiana. Tive,
então, a idéia de pedir a meu pai que enviasse um convite à família
Perez para que viessem passar o Natal conosco. Ele, alegremente,
concordou, e logo partiu um mensageiro, portando o convite. Passados uns
dias, eu estava no curral, na rotina do trabalho, quando chegou
Zeferino esbaforido, gritando e pulando:
Chegaram! Chegaram! Eles já
estão lá em casa! Saímos correndo, com o coração explodindo no peito. A
primeira coisa que vimos foram os animais parados diante da casa.
Chegamos como dois furacões, e a alegria estava em nossos semblantes e
nos de nossos visitantes. Seguiram-se dias de alegria e realizações,
porque, revelados nossos sentimentos, tanto o Sr. Germano como meu pai
se mostraram felizes com nossa união. Isso solidificou ainda mais a
amizade que surgiu entre os dois. Algum tempo depois, realizou-se o
enlace de Zeferino e Tiana. Um mês depois, casei-me com Justininha. Ela,
em seu vestido de noiva, era o símbolo da pureza, embora seus ciúmes
fossem os mais engraçados possíveis e todos riam da sua ingenuidade.
Fomos morar em um retiro, perto
da sede da fazenda. Lembro-me bem que, quando já estávamos com cerca de
dois meses de casados, recebemos a visita de umas primas minhas, que
vieram de Parnaíba, e ficaram com meus pais. Justininha, ao vê-las,
ficou com ciúme, fazendo suas birrinhas. Resolvi, então, me retirar,
pedindo desculpas e alegando que tinha que ir encontrar Zeferino. Quando
me preparava para sair, minhas primas se acercaram de mim, pedindo que
eu não fosse. Justininha ergueu-se e, com um jeitinho altaneiro, disse:
Respeitem-me, ouviram? Ele é meu esposo, e quem manda sou eu. Por isso,
sinhás corujas cheguem mais perto e vão ver!...Depois, virando-se para
mim, falou: E você, não gostou do que fiz? Cheguei-me a ela, e
tomando-a nos braços, dei-lhe um beijo, sorrindo daquela cena. Sim, meus
irmãos, quando amamos verdadeiramente, quando estamos com nossa alma
gêmea, estamos com a mais doce das mulheres e, em geral, aquelas são,
aos nossos olhos, as mais belas, divinas e originais! Por este amor,
perdoamos tudo, em recompensa pelo que de bom nos traz. Justininha e eu
éramos eternos namorados, porém seus ciúmes continuavam. Eu bem a
compreendia, ao ponto de até achar graça de seus caprichos tão infantis.
Estávamos com cinco meses de
casados quando resolvemos passear na casa de uma tia minha, onde eu
ficara para estudar, quando criança. Todos gostaram da idéia, e, com as
recomendações dos velhos, partimos rumo à cidade de Parnaíba. Chegamos
às margens do grande rio, e era preciso usar uma chalana para fazer a
travessia. Senti medo, mas nada disse. Entramos na embarcação e
partimos. Ao chegar na metade do caminho, senti que não estávamos
seguros, e houve uma profunda confusão. Abracei Justininha com força, e
tive a sensação da morte! Foi tudo tão repentino que não consigo
descrever.
Ouvi Justininha gritar e me
falar em desespero: Tiãozinho, saia de perto dessa coruja! E virando-se
para uma moça que estava ali junto, continuou: Saia de perto do meu
esposo, sinhá coruja! Ele é meu esposo, viu? Vimos, então, que a moça
olhava, ao longe, aquela fatal chalana, que acabava de afundar nas águas
do rio Parnaíba. Depois, escutamos gritos de desespero... Olhamo-nos e
logo compreendemos que não mais éramos deste mundo físico. Sim, ali
ficaríamos esperando algum chamado para outras moradas!...
Depois de algum tempo,
assistimos quando chegaram nossos restos mortais. Justininha em tudo
reparava e ria, achando graça do que via. Porém, se alguma moça ia ver
meu cadáver e fazia qualquer comentário, ela brigava e dizia coisas que
me faziam rir. Tudo ali, onde estávamos, era novidade e motivo de riso
para nós. Começou a escurecer e eu comecei a me preocupar conosco. Que
devia fazer? Justininha parecia um frágil passarinho e se agarrava em
mim. Era o que me preocupava: sua inocência e sua confiança em mim a
livravam de qualquer pensamento mau. Disse-lhe: Justininha! Somos
espíritos, e o nosso mundo, o mundo dos espíritos, me parece ser outro,
longe daqui. Vamos pedir a Deus que nos mande um Guia, para bem nos
conduzir, pois não sabemos o caminho e temos que chegar lá!
Ela começou a rezar a Ladainha
de Nossa Senhora. Eu sabia, apenas, a Ave-Maria que minha tia havia me
ensinado. Acercou-se de nós um homem, trajando como se fosse um fidalgo,
que disse chamar-se Netuno e pediu que o acompanhássemos. Porém, nós
tivemos medo, e não quisemos seguir com ele. Começamos a correr de um
lado para outro, sendo assediados por espíritos sofredores, que mais
pareciam bichos, e que tentavam nos agarrar. Chamávamos por Deus e, na
mesma hora, eles se afastavam. Já estávamos cansados de tanta
perseguição, quando apareceu novamente o fidalgo e nos disse: Meus
filhos! Sempre fui o protetor de vocês e, no entanto, me temem, pois já
se esqueceram de mim. Agora, escutem o que lhes vou dizer...
Nisso, ia passando um casal de
encarnados, e ele continuou: Sim! Vocês, agora, são espíritos! Vou lhes
dar uma prova. Vá, Tiãozinho, pegue Justininha e passem por eles –
falou, apontando o casal. Lembro-me bem! Passamos através deles, e o
casal apenas revelou sentir arrepios e continuou caminhando. O período
que passamos vagando nos deixara na dúvida se éramos ou não
desencarnados. Voltamos, então, até o nosso instrutor. Vamos agora –
nos disse ele – até onde está aquele pequeno grupo de senhores.
Era um grupo de homens que
conversavam animadamente sobre seus negócios materiais. Ficamos um pouco
entre eles, e começaram a se sentir mal. Um se queixava de enxaqueca,
outro dizia estar sentindo um grande peso nas costas, enfim, se foram,
nos deixando sozinhos. Eu perguntei a causa daqueles transtornos
naqueles senhores que, antes de nossa chegada, pareciam nada sentir.
Netuno sorriu, e nos explicou:
Quando vocês passaram pelo
casal, assim como em meio aos senhores, foram-lhes fornecidos os
necessários fluidos, isto é, ectoplasma, força vital. Levou-nos para um
outro lugar, e continuou: Agora, procurem ver os quadros de seus
feitos...Foi então que tudo se clareou para nós. Não sentimos mais medo
do nosso protetor e seguimos ele para um plano de readaptação, as casas
transitórias. Passamos, assim, a sermos submetidos às exigências da
hierarquia espiritual.
Hoje, após várias missões,
inclusive em Nosso Lar, uma Casa Transitória, aqui estamos, integrados à
missão do Grande Seta Branca. Somos, também, Jaguares, junto a vocês,
Mestre Sol e Mestre Lua, Doutrinador e Apará!...
Salve Deus!
Observação:
Essa
estória Tia Neiva nos relatou para que tivéssemos uma idéia das
queridas figuras de Tiãozinho e de Justininha, almas gêmeas de natureza
psicofísica muito além da nossa, aqui na Terra. Como o Capelino Stuart,
Engenheiro Sideral de Capela, Tiãozinho reencarnou para auxiliar o
resgate de Justininha, que ainda estava presa a reajustes cármicos de
suas últimas passagens no plano físico da Terra. Libertados, puderam
seguir suas jornadas em Capela, tendo Tiãozinho se engajado na Corrente
do Amanhecer, onde realiza grandes trabalhos, nos protegendo e ajudando
em nossas questões materiais e, especialmente, em nossos deslocamentos e
viagens, zelando por nossa segurança. Mas Justininha não se ligou à
Linha do Amanhecer, realizando seu trabalho junto às crianças e
adolescentes, preocupando-se com os espíritos mais rebeldes e menos
evoluídos, aos quais impõe a responsabilidade por suas ações, dentro da
Lei de Causa e Efeito. Essa divisão de atividades, porém, não interfere
na profunda ligação desses dois iluminados seres Capelinos, que emanam e
projetam seu grande amor em nossos lares e em nossos corações. Por
isso, não aconselhamos que Justininha seja convidada para as Linhas de
Passes do Pequeno Pajé, até que tenhamos instruções em contrário, uma
vez que ela não realiza tais trabalhos no âmbito da Corrente do
Amanhecer. Salve Deus
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"De
pronto achou-se em outro local, e ouviu a voz familiar de Johnson Plata.
Cumprimentou-o com o “Salve Deus!” habitual e notou que, em sua companhia,
havia duas pessoas. Johnson os apresentou com os nomes de Eris e Stuart. Ao
olhar para este último, notou certa familiaridade nele, como se já o
conhecesse. Percebendo seu pensamento, Johnson e Eris riram, e lhe explicaram
que, de fato, ela conhecia Stuart, pois ele era Tiãozinho!
A
surpresa de Neiva não podia ter sido mais agradável. Tião, o espírito amigo e
constante, o socorrista de todas as horas difíceis, o brasileiro simples e
sempre alegre, ali estava com sua imponente estatura, seu sorriso afável e sua
amizade devotada. Tiãozinho, um Capelino! Ela chorou de alegria.
Agora,
que estamos mais familiarizados com a multiplicidade do ser, podemos dizer algo
a respeito de Tiãozinho, dada a importância de sua missão na Terra.
Sua última encarnação, neste planeta, foi a de um
simples cidadão brasileiro, da Mato Grosso, filho de um grande fazendeiro.
Casou-se, muito jovem, com sua alma gêmea, a Justininha, e seu nome era
Sebastião Quirino de Vasconcelos. Mas todos o chamavam de Tião ou Tiãozinho" (trecho do livro 2000 Conjunção de Dois Planos)
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